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Celso Furtado e a memória do futuro


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Foi num 20 de novembro, de 2004, que Celso Furtado morreu, de parada cardíaca, em casa.

Seguiu-se o longo momento do luto e das providências de todo tipo até pôr as coisas relativamente em ordem.
Passei então a pensar no que fazer com os papéis e livros que Celso acumulara vida afora e de que eu era herdeira.
Celso teve uma vida duplamente movimentada, como homem de pensamento e como homem de ação. Economista, foi um dos fundadores da Cepal, nos anos 1950; diretor do BNDE; criador e primeiro superintendente da Sudene; primeiro ministro do Planejamento do Brasil; depois de cassado pelo golpe de 64, foi professor das universidades de Paris/Sorbonne, Cambridge, Yale, American, Columbia; embaixador do Brasil junto à CEE; ministro da Cultura; membro de comissões internacionais de cultura, de desenvolvimento, de bioética. E deixou uma obra vasta, de uns 30 títulos traduzida numa dúzia de idiomas.

Todas essas etapas de sua vida estavam espelhadas nos cerca de 13 mil volumes de sua biblioteca, voltada para as áreas que o fascinaram vida afora, como história, literatura, filosofia, cultura. E, claro, principalmente, economia: teoria, política e história econômicas.

Quanto à documentação propriamente dita -- a "papelada" -- reunia fontes primárias preciosas e inéditas da história recente brasileira; documentos raros, seus diários da Segunda Guerra, manuscritos de seus livros e de discursos (que algumas vezes ele fez para os 3 presidentes com quem trabalhou, JK, Janio e Jango); os rascunhos dos vários planos econômicos e sociais que elaborou, a começar pelo Plano Trienal, de 1962; documentos sobre as negociações para a implantação da Aliança para o Progresso; relatórios confidenciais do governo americano sobre o Brasil dos anos 50-60; documentação sobre o exílio. Sem falar das 15 mil cartas enviadas e recebidas, e que eu li integralmente para fazer o livro "Correspondência Intelectual de Celso Furtado" (Companhia das Letras, 2021). E que incluía interlocutores como Robert Kennedy, Henry Kissinger, Hubert Beuve-Méry, Fidel Castro, Albert Hirschmann, Lord Bertrand Russell, e brasileiros como Darcy Ribeiro, Lina Bo Bardi, Thiago de Mello, Fernando Henrique Cardoso, Antonio Callado, Antonio Candido etc etc.

Em 2009 consegui juntar todos os livros de Celso, que estavam em 3 endereços distintos. Criamos assim a Biblioteca Celso Furtado, instalada no Centro Celso Furtado. E, nela, uma Coleção de Obras Raras, um Banco de Artigos Acadêmicos sobre CF (mais de 200), um Banco de Teses sobre CF (mais de 100). Tudo disponível on line.

Dez anos depois, justamente em novembro de 2019, fiz a doação de todo esse volumoso acervo (bibliográfico + documental) ao Instituto de Estudos Brasileiros da USP. Então, a biblioteca inteiramente desmontada, mais as dezenas de caixas com documentos rumaram para S. Paulo, de caminhão,

Aí... veio a pandemia.

Agora, dois anos depois da doação, tive a boa nova de que a diretoria e os professores do IEB vão dedicar os próximos meses à organização das mais de 200 caixas que receberam. Dentro delas, estão peças valiosas para se reconstituir um dos períodos mais ricos do Brasil e de muitos outros países na segunda metade do século XX -- quando Celso, protagonista e observador privilegiado, deu o melhor de si para que o desenvolvimento e a formação de um país mais equânime fossem mais que um sonho.

Rosa Freire d"Aguiar e a Equipe da Transportado Millenium. Mudança da Biblioteca. RJ, 20 nov. 2021.

 

Recorte de Jornal.

 

Biblioteca Celso Furtado & Biblioteca do CICEF. RJ, 20 nov. 2019.

 

Texto publicado em em 20 de novembro de 2021, na página pessoal do Facebook de Rosa Freire d'Aguiar.

Fotos do acervo pessoal de Rosa Freire d"Aguiar.






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